Episódios soltos II


Com a crueldade humana a tornar-me o espírito cinzento como uma manhã de inverno, ontem durante a procissão do Corpo de Deus dei comigo a recordar que este ano de 2016 marca um conjunto de efemérides na minha vida.
Desde logo fez ontem 70 anos que o meu Belenenses foi campeão nacional pela primeira e única vez e foi essa notícia que havia lido ao longo da tarde que me levou a ir buscar outros retalhos de memórias.
Desde logo faz por estes meses (Abril a Junho) 30 anos que partiram o meu pai e as minhas duas avós (e em Maio anterior falecera o meu avô materno). No espaço de um ano fiquei sem 40% da minha pequena família (e sim sempre tive muito tristeza por ter uma família tão pequena e agora quase inexistente).
A 20 de Setembro de 1991 (fará agora 25 anos) estive pela primeira vez a secretariar uma sessão da Assembleia Municipal. Como ninguém queria fazer este serviço (o pior, em termos administrativos, que existe numa autarquia), o então presidente interino da Assembleia (Armando Salvador Maia da Fonseca) chamou-me (era o mais novo funcionário e logo o menos provável de se negar) e acabei por ficar todo este tempo. Essa estreia ficou marcada pela falta de quórum estiveram apenas 12 elementos da Assembleia (Armando Salvador, Luís Duarte, Judite Faustino, Augusto Viana, Rui Viola, José Célio, José Corado, Jorge Franca, Teresa Faustino, Jorge Gomes, João Elias e Cândido Ferreira), para além do Presidente da Câmara (Carlos Serafim), do Chefe de Divisão (Joaquim Henriques Gomes) e de mim. Destas 15 pessoas só o Luis Duarte está politicamente activo (foi depois vereador, Presidente da Câmara e de novo vereador) e quatro já partiram (Augusto Viana, José Célio, José Corado e Joaquim Gomes).
Nestes 25 anos estive em 212 sessões consecutivas (desde a sua criação em 1977 a Assembleia reuniu 329 vezes). Para além disso já tenho mais de mil reuniões de Câmara e para cima de uma centena e meia de reuniões de comissões. Isto significa mais de 5000 horas em reunião, mais de 20.000 páginas de actas e se calhar quase 10.000 horas a fazer convocatórias e a redigir actas. São mais de 65% das sessões da Assembleia Municipal e 25% das actas das reuniões de Câmara (em 102 anos). Ou seja, mais de metade da minha vida tem sido passada a ser uma espécie de cronista mor do reino.
Neste período já conheci 182 dos 281 membros da história da Assembleia e passei por cinco dos sete presidentes da Assembleia Municipal (Fernando Mouga, Feliciano Duarte, Gabriel Martins, Lúcia Poseiro e João Carlos Duarte) e pelos dois presidentes interinos (Armando Salvador e Paulo Patrício).
Valeu a pena todo este esforço? Se calhar acabou por me acontecer o que acontece a um actor que tem um personagem marcante: fiquei colado à imagem de secretário das reuniões e ninguém repara que, eventualmente, poderia ser bom também noutras funções e com outro grau de responsabilidade.
At least its a life time work…
Mas não se esgotam aqui as efemérides de 2016. A 01 de Dezembro de 1996 ocorreu a procissão mais marcante da minha vida – nos 50 anos do Milagre das Pombinhas de Fátima, a imagem de nossa Senhora veio ao Bombarral e chegou já ao final da noite ao hotel comendador. Não sei precisar de foi ás 23.00 ou 24:00 horas, mas sei que sai da igreja já depois das 02:00 horas da manhã.
Nunca antes ou depois vi a igreja do Bombarral tão repleta de gente.
O que tornou esta procissão marcante, para além da enorme adesão de pessoas, foram dois factos.
Em primeiro lugar o ter sido uma noite de invernia (no tempo em que ainda havia invernos) e eu ter feito toda a procissão com 40º de febre e ainda ter regressado á igreja às 07:00 horas da manhã porque tinha convencido o meu braço direito (Cristina Henriques) a responsabilizar-se pelo terço aquela horas com o compromisso de eu estar com ela para a eventualidade (altamente improvável) de algo correr menos bem.
Em segundo lugar porque na segunda-feira seguinte um ilustre causídico local me procurou para me dizer tinha assistido à procissão e, embora se tivesse há muito afastado da igreja, se tinha sentido vivamente impressionado com aquela manifestação de fé.
De facto, numa terra que durante décadas foi do mais radical anti-clericalismo, que vandalizou uma igreja centenária (numa altura em que já há um ano não havia pároco (Bernardo Vicente Pinto), falecido em Abril de 1914 e que já então não houve condições de substituir) e que precisou de 27 anos para voltar a reactivar a actividade católica (na vila, que não nas freguesias ou nas aldeias) e mesmo assim com oposição dos velhos republicanos, passadas algumas décadas conseguia-se já na altura fazer grandes manifestações públicas de fé, com a presença da quase totalidade das forças vivas do concelho, sendo o pároco das figuras mais influentes.
Os flashs de memórias passadas já se marcam por décadas… i’m getting old

Comentários

  1. Parabéns Nuno, 25 anos ao serviço da AM é obrapara quem é tão novo. É uma pena que ao longo deste 25 anos não tenhas sido solicitado para outro cargo de que certo terás muita conpetência e mereces pela dedicação ao municipio. Abraço

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