Cidadania
O multiculturalismo
Desde
a antiga Grécia que a sociedade humana tem vindo a desenvolver o
conceito de cidadania, tido como o conjunto de valores sociais que
estabelecem os direitos e deveres respeitantes à participação de
um individuo na atividade do Estado, englobando a sua pertença a uma
nacionalidade, a uma cultura e a um território especificos. Estes
direitos e deveres não são uniformes, variando de Estado para
Estado, havendo países submetidos a ditaduras militares ou a
teocracias religiosas onde se encontram limitados, ou são mesmo
inexistentes, muitos dos direitos que em Estados democráticos são
tidos como fundamentais.
Se
inicialmente na sociedade grega a cidadania se entendia como os
deveres do individuo para com a cidade, hoje quando se fala em
cidadania pensa-se também nos direitos. Durante muito tempo a
cidadania era apenas um atributo das classes política e
economicamente dominantes, mas a evolução da sociedade levou a que
gradualmente este conceito procurasse abranger todos os cidadãos,
através da universalização dos direitos individuais que visam
permitir uma igualdade no acesso à justiça, à administração e
aos cargos de decisão.
A
movimentação de pessoas entre as diversas nações, em busca de uma
vida melhor, coloca diversas questões, nomeadamente a nível da
cidadania, pois a pertença a uma nação era factor importante para o
individuo poder aceder aos direitos estabelecidos nessa mesma nação,
suscitando-se a questão das implicações do multiculturalismo, pois
é cada vez mais notória a existência em cada nação de um elevado
de imigrantes originários de outras nações, trazendo com eles
outras línguas, hábitos, culturas e religiões.
A perspectiva multiculturalista coloca a questão de uma cidadania multicultural abrangendo os imigrantes através de uma cidadania
diferenciada, com o intuito de assegurar a inclusão dos mesmos na
sociedade da nação onde se instalam, mas em que a cidadania como
identidade estaria colocada acima da cidadania estabelecida nos
normativos legais, separando os direitos de cidadania e de
identidade.
Muitas
vezes os imigrantes têm direitos sociais e civis, mas não tanto em
termos de direitos políticos, ainda que cada vez mais se verifica
uma integração também neste âmbito mas não total. Exemplo disto
é o facto de no espaço da União Europeia, os cidadãos dos Estados
membros disporem do direito de votar e de serem eleitos para apenas
alguns dos orgãos do Estado para onde migraram, mas o mesmo já não
sucede em relação aos imigrantes dos Estados não membros da União
Europeia.
Verifica-se
que também as minorias étnicas, religiosas ou sociais se queixam
recorrentemente de não disporem dos mesmos direitos dos restantes
membros de uma sociedade, apesar de, perante lei, disporem dos
mesmos direitos de cidadania. Todavia, a aceitação das diferenças,
sejam elas de que natureza forem, ainda constituem uma dificuldade
das sociedades modernas. Mas não só nesse aspeto existem
dificuldades de encontrar respostas adequadas para a integração de
novos individuos numa sociedade, pois, como se verifica nos
movimentos migratórios dos países do sul da Europa para os países
do norte da Europa, ou de África e Ásia para a Europa, a reação
dos Estados de acolhimento aponta muitas vezes para uma tentativa de
limitar essa imigração.
A
crescente globalização da sociedade tem levado ao esbater da
importância dos Estados-nação, com o aumento da importância de
entidades supranacionais, como é o caso da União Europeia, levando
a uma passagem dos simples direitos individuais de cidadania para os
direitos de uma pessoa universal, por força da universalização de
muitos direitos, como é o caso, por exemplo, dos direitos humanos.
Mas
só uma cidadania diferenciada permitirá ter em conta as diferenças
e os interesses díspares dos grupos que integram uma mesma
sociedade, permitindo responder adequadamente aos desafios colocados
por uma sociedade em permanente mudança e onde os movimentos
migratórios são muito acentuados.
Se
por um lado as migrações apresentam aspectos positivos para o desenvolvimento das sociedades por força dos frutos da interação
cultural, permitindo, por exemplo, responder a carências de mão de
obra especializada de um determinado Estado, não deixa de ser
verdade que também importam num conjunto de problemas que obrigam a
repensar as formas de acolher e integrar os imigrantes. Problemas
como o terrorismo global, ao invés de contribuírem para uma
cidadania universal, contribuem para o ressurgir dos aspectos negativos do nacionalismo que já no passado lavraram páginas muito
negras da história da humanidade.
A
integração numa sociedade nacional de um grupo de cidadãos com
culturas, religiões, hábitos e línguas diferentes, constitui um desafio quer para quem acolhe esses grupos de imigrantes, quer para
esses cidadãos. Por um lado coloca-se a questão da integração e
aceitação dos imigrantes, por outro lado suscita-se a problemática
da adaptação a uma sociedade diferente, essencial para permitir a respectiva integração.
O
cruzamento de culturas diferentes pode resultar de uma forma benéfica
para ambas as partes, desde que dos dois lados exista uma verdadeira
preocupação de respeito pelas diferenças e de procura de
integração que permitirá o enriquecimento mútuo perante a
multiplicidade cultural. Mas é muito importante aprofundar o estudo
das diferenças culturais, étnicas, linguisticas ou sociais, pois só
uma sociedade adequadamente informada e que aposta em políticas de
educação para a integração será capaz de aceitar e desenvolver
uma cidadania diferenciada que a todos permita acolher e integrar.
Sem
uma educação adequada e profunda da sua sociedade no seu todo, será difícil ultrapassar as dificuldades e os desafios colocados pela
presença de grupos com culturas, hábitos, religiões, línguas e
comportamentos diferentes, correndo-se o risco do surgimento de
conflitos que podem pôr em causa a estabilidade e a paz essenciais
para assegurar um futuro de progresso e desenvolvimento harmonioso
para todos os indivíduos.
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