Desemprego elevado – uma inevitabilidade?

Desemprego elevado – uma inevitabilidade?
As economias não podem dar-se ao luxo de desperdiçar recursos

Ainda que o discurso político o negue, a prática demonstra um claro empenho na existência de elevados números de mão-de-obra disponível, garante de redução dos custos associados ao trabalho e, inevitavelmente, ao aumento dos lucros dos grandes grupos económicos.
A prossecução deste caminho tem elevados custos sociais, económicos e morais que certamente não tiram o sono nem aos decisores políticos nem a quem, por trás deles, promove estas mesmas políticas. Já há quem não esconda publicamente o que muitos pensam em privado – não gostar de pagar ordenados e, na inevitabilidade de ter de o fazer, pagar o menos possível (na idade média é que a sabiam toda – o feudalismo é o sonho do capitalismo do século XXI).
Para uma economia atingir o pico da sua produtividade precisa de aproveitar todos os seus recursos, mão-de-obra disponível incluída. Logo o desemprego involuntário constituí um desperdício de recursos e um custo para a economia.
Em dois ou três anos conseguiram os nossos políticos europeus a proeza de destruir milhões de postos de trabalho, milhões de vidas postas em causa, milhões de sonhos perdidos, capacidade de produção desperdiçada sem qualquer retorno, a não ser o enriquecimento de quem gerou e promoveu esta crise.
O que fazer? Manter indefinidamente um desemprego elevado, prosseguindo políticas de promoção activa do desemprego? Esconder os números do desemprego real atrás de engenharia estatística e de pretextos burocráticos para dizer que quem não tem emprego real (por estar fora dos sistema, por estar em estágios não remunerados, formação ou similares) ou tem um pretenso emprego (precariedade ou sub-emprego) não conta como desempregado?
Ou vamos crescer e assumir que o desemprego é um problema real, mais importante do que os lucros dos ditos mercados, e que é preciso encontrar soluções efectivas?
E note-se que o sector público deve ser dinamizador de políticas de emprego mas quem deve ser pressionado a criar empregos é o sector privado.
Como o fazer? Desde logo criando uma obrigação legal a todos os Estados membros da União Europeia de manterem as taxas de desemprego (reais) em valores baixos, por exemplo, de 3%.
Essa obrigação deveria passar por uma alteração ao Tratado Orçamental acrescentando esta como uma das obrigações que os Estados teriam de cumprir para não serem sancionados.
A redução das actuais taxas de desemprego, insustentáveis e imorais, deveria ser feita num prazo máximo de 4 / 5 anos. (É curto? Azar, reduzir os deficits públicos em 3 ou 4 anos também é, e não foi isso que inibiu a imposição de prazos impossíveis…)
Para além da difícil mudança de mentalidades, passaria por reconhecer a realidade e depois criar incentivos fiscais e financeiros – benefícios para quem cria postos de trabalho e os mantém e penalizações para quem reduz postos de trabalho ou teima em apostar numa precariedade ilusória em nome do economicismo e da maximização dos lucros…
O caso dos Vistos Gold em Portugal é um bom exemplo de como fazer as coisas da forma errada – em vez de serem concedidos em troca de investimentos imobiliários que apenas beneficiam uma minoria, deveriam ser atribuídos exclusivamente a quem criasse e mantivesse um determinado número de postos de trabalho.
Em terceiro lugar passa por defender um sector vital de qualquer economia – as pequenas e médias empresas (no comércio, indústria e serviços). O facto de se permitir que os mega-grupos económicos sufoquem e eliminem a generalidade da pequena concorrência, resulta numa diminuição de postos de trabalho.
Se metade dos estabelecimentos encerrados numa vila ou cidade pudessem ser reabertos, para que níveis desceria o desemprego? Certamente haveria mais dinheiro a circular e a economia seria mais fluída e eficiente. Teria até um duplo beneficio para o Estado - aumentava a cobrança de impostos por força do aumento da massa contribuinte e reduzia as despesas com a área social.
Onde se vai buscar dinheiro para isto?
Quem quer dinheiro vai buscá-lo onde ele existe - nos mercados de capitais, mais propriamente aos lucros fabulosos escondidos em off-shores. É preciso coragem para combater a praga dos off-shores que envenena a economia mundial contribuindo para a extrema dificuldade da resolução de problemas e para o agravamento das desigualdades.
Só é preciso haver coragem e vontade política, coisas que infelizmente não abundam nem se vendem nas farmácias.

Comentários