Globalização


Globalização
Globalização e movimentos anti-globalização

O mundo em que vivemos sempre foi território para uma vasta míriade de culturas, línguas, religiões e formas de vida e interação em sociedade. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação e com uma cada vez mais rápida e facilitada circulação de pessoas, bens e serviços, a nossa sociedade foi evoluindo para uma cada vez mais profunda e desenvolvida globalização, com uma consequente perda de identidade por parte de muitos estados e culturas. Também a nível económico é cada vez mais importante esta globalização com as decisões a serem tomadas num nível supranacional e privilegiando, principalmente, os interesses dos países mais poderosos e dos grupos económicos dominantes.
Uma das consequências desta evolução da nossa sociedade é o aumento da diferença entre um grupo restrito que lucra fortemente com a globalização e o empobrecimento de grande parte da população sujeita a políticas que buscam uma mão de obra mais barata, promovendo a precariedade laboral para que havendo muita mão-de-obra disponível se possa baixar a respetiva retribuição pelo trabalho prestado.
Face a este cenário de uma hegemonia globalizante foram-se, em simultâneo, desenvolvendo movimentos tendentes a valorizar e defender as culturas e os valores culturais, sociais, económicos e religiosos, ao mesmo tempo que procuram formas de inverter o gradual empobrecimento da maioria da população.
Enquadram-se neste âmbito situações como a promoção da pequena agricultura familiar com, por exemplo, a criação de bancos de terras que podem ser cultivadas para satisfazer as necessidades individuais ou de pequenas comunidades, o apoio ao comércio local valorizando os produtos artesanais e a oferta personalizada de bens e serviços ou os processos de participação nos governos locais tendo como exemplo os orçamentos participativos nas autarquias locais portuguesas (ainda que muito poucas vezes utilizada).
Todavia para poderem surtir os efeitos pretendidos de se oporem com sucesso ao processo de globalização, é importante que estes movimentos contra-hegemónicos consigam ter uma postura transnacional com vista a ganharem dimensão e poderem responder ao poder económico dos interesses gerados pela globalização.
Neste campo encontramos, por exemplo, redes transnacionais de defesa do meio ambiente e dos direitos humanos cuja força assenta fundamentalmente na divulgação a nível macro das questões que defendem como são os casos de organizações como a World Wildlife Fund ou a Human Rights Watch. Caso estas entidades apenas lutassem por interesses especificamente localizados, enfrentariam muito mais dificuldades em obter reconhecimento e apoio para a sua causa.
Também é importante que face à postura de empresas multinacionais que na procura da maximização dos lucros, não hesitam em recorrer a trabalho infantil ou cujos bens são produzidos em locais sem as condições adequadas, sem cumprirem com as regras de segurança e pagando valores muitos baixos, surjam movimentos transnacionais de defesa dos trabalhadores e dos consumidores, que denunciem este género de situações e consigam chegar a um leque vasto de pessoas, de forma a adquirirem força para que a respetiva denúncia possa surtir efeitos e levar a uma gradual erradicação destes comportamentos.
No seguimento da ação destes redes é de realçar que dentro dos movimentos de contra-hegemonia da globalização a criação de movimentos que apoiem o desenvolvimento das condições de trabalho e a formação dos trabalhadores nos países mais desfavorecidos, pois se estes não se desenvolverem a tendência dos interesses económicos globalizantes será o de recorrerem a essa mão de obra mais barata colocando dessa forma em causa o emprego e rendimentos dos trabalhadores dos países mais desenvolvidos.
Um exemplo da organização deste tipo de movimentos é o Forum Social Mundial que surge como resposta ao Fórum Económico Mundial, procurando desenvolver políticas alternativas à globalização neoliberal e, em última análise, criar um “mundo novo”.
Igualmente importante é a divulgação do património comum da humanidade, recordando as diferentes raízes culturais da humanidade que importa não só preservar como herança para as gerações futuras, como também como simbolo de identidade.
Num mundo altamente globalizado em que, muitas vezes, as decisões políticas são tomadas em função dos interesses dos grandes poderes económicos e dos denominados mercados, mesmo que tal implique a imposição de grandes sacrificios com uma considerável carga de medidas de austeridade sobre as populações, restringindo os seus direitos e reduzindo substancialmente a qualidade de vida ao mesmo tempo que se aumenta a precariedade de emprego, verifica-se que o papel dos movimentos que procuram opor-se à homogeneidade da globalização neoliberal é deveras importante.
Se não for possível inverter a atual situação de uma globalização neoliberal que apenas serve os interesses de um reduzido grupo em detrimento dos interesses da grande maioria, corre-se o risco de se criar o espaço propicio para a ampliação de fenómenos violentos. Não nos podemos esquecer que a globalização também enquadra situações preocupantes como o terrorismo internacional ou os tráficos de droga e seres humanos.
A eficácia dos movimentos anti-homogeneidade da globalização depende fundamentalmente da sua capacidade de ultrapassarem o mero posicionamento local atingindo uma dimensão transnacional que lhes permita efetivamente despertar consciências e influenciar concretamente os decisores políticos.
O recurso à violência como se verificou em muitas manifestações antiglobalização, acaba apenas por servir os interesses da globalização neoliberal criando os pretextos para a mesma se reforçar ao mesmo tempo que vai limitando e forma mais ou menos percetível os direitos e liberdades arduamente conquistados ao longo de séculos.
Para ser eficaz a mensagem destes movimentos tem de ser clara e mobilizadora, levando a que cada vez mais pessoas compreendam a necessidade de defender as suas culturas e modo de vida, de forma a que seja possível assegurar uma real e democrática distribuição da riqueza que permita erradicar a pobreza e outros fenómenos associados à insegurança e à corrupção. Só motivando as pessoas para uma participação ativa na sociedade se pode levar à inversão da atual situação.
A participação de cidadãos motivados e informados nos orgãos democráticos, nacionais ou supranacionais, deve ser incentivada com o intuito de que a mensagem que estes grupos pretendem passar possa encontrar eco nos centros de decisão.
A forma como a globalização neoliberal tem funcionado, em que bancos e grupos de investidores podem com um simples acesso a um computador transferir milhões de um lado para o outro, desestabilizando qualquer economia e as consequências nefastas para as populações, podem exacerbar novamente o fantasma dos nacionalismos em face do enfraquecimento dos estados-nação, o que já no passado foi responsável por páginas históricas da humanidade.
A globalização em si não teria mal desde que fosse pensada e direcionada para o bem comum e para a resolução dos problemas com que a humanidade continua a debater-se. As organizações supranacionais, como é, por exemplo, o caso da União Europeia, têm um papel importante, mas que depende da capacidade de haver uma visão abrangente e solidária, que até agora tem sido difícil de vislumbrar.



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