Meritocracia ou mediocridade?

Meritocracia ou mediocridade?
O futuro de Portugal e da Europa também passa por aqui

Na nossa sociedade, e em especial nos últimos 8 anos de profunda crise, tornou-se comum usar chavões para justificar o estado das coisas ou para desviar a atenção da incapacidade (ou falta de vontade) de identificar as causas últimas e aplicar soluções que evitem o eternizar da crise e o afundar de uma ou mais gerações numa pobreza sem fim e sem esperança.
Um desses chavões que os pretensos neoliberais, especuladores sem moral, banqueiros sem escrúpulos, decisores incompetentes e supostos analistas fazem questão de mencionar como causa da crise nacional é a falta de produtividade dos portugueses.
Ora o problema não é, nunca foi e dificilmente será a falta de produtividade dos portugueses. A baixa produtividade resulta sim de má gestão, pública e privada, resultante de um sistema que foge do mérito e tem horror a quem pense, tenha ideias e opiniões próprias esgueirando-se ao modelo estandardizado do yes man obediente, sem opinião e garbosamente subserviente face a quem detém o poder, seja ele político, económico ou social.
Na maioria das vezes promove-se para a gestão da coisa pública ou das empresas não quem tem as melhores qualificações, experiência ou capacidade, mas sim quem optou por se “colar” às pessoas certas, limitando-se a ser servil e obediente mesmo que incompetente, inexperiente ou não qualificado.
O resultado está à vista – má gestão e incompetência que levam a investimentos e opções erradas visando somente o beneficio individual, muitas vezes escondendo os defeitos de quem detém o poder através de posturas assentes no autoritarismo que desmotivam e afastam quem pode contribuir para a resolução dos problemas das empresas e dos departamentos públicos, promovendo quem faz da intriga e do comodismo a sua arte.
Desta via resulta o mau funcionamento e falta de produtividade que não se combate com baixos ordenados, sobrecarga de horas e dias de trabalho, falta de condições e de perspetivas de futuro.
Combate-se a baixa produtividade, nomeadamente, resolvendo o modelo que leva há existência de má gestão.
É também preciso responsabilizar os gestores, públicos e privados, pelas decisões que tomam e pelas estratégias que seguem (quando as há, porque muitas vezes é mesmo navegação à vista). Como é que alguém imaginou que se podem premiar gestores de empresas que dão prejuízo?
A promoção da qualidade de pensamento, experiência e acção em detrimento da mediocridade da bajulação, intriga e oportunismo, é um dos pressupostos essenciais para o aumento da produtividade e da riqueza interna de um país.
Mas, como bem demonstra a história, é preciso em simultâneo promover uma cultura de qualidade de vida, com salários ajustados à realidade económica que promovam a circulação do dinheiro e o crescimento de uma classe média sólida e instruída garante da estabilidade e solidez social e económica. Concentrar o dinheiro em contas privadas de off-shores não resolve crise nenhuma.
Algum dia a mediocridade reinante deixará de temer quem pensa pela sua própria cabeça, tem ideias, opiniões, capacidade de trabalho e vontade de produzir e desenvolver? A argentrocacia que os ditos mercados impuseram na maioria da Europa, que se alimenta desta mesma mediocridade da gestão, algum dia será domada por uma verdadeira democracia que hoje, na Europa, é apenas letra morta?
Um dia chegaremos lá, pode é ser tarde de mais para Portugal e para a Europa…

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