O
Euro
Uma
boa ideia mas só isso
Visando
o aprofundamento do processo de integração europeia, os Estados
membros da União Europeia consagrariam em 1991, no Tratado de
Maastricht, a União Económica e Monetária que levaria ao
surgimento em 1999 de uma moeda única, o Euro, cujas notas e moedas
começariam a circular em janeiro de 2002 (site da Comissão
Europeia – assuntos económicos e financeiros – o Euro).
Atualmente
esta é a moeda utilizada em 19 países. Desde 1999 que integram o
grupo de países do Euro a Alemanha, Bélgica, Irlanda, França,
Itália, Portugal, Finlândia, Áustria, Holanda, Luxemburgo e
Espanha, a que se juntariam em 2001 a Grécia, em 2007 a Eslovénia,
em 2008 Chipre e Malta, em 2009 a Eslováquia, em 2011 a Estónia, a
Letónia em 2014 e a Lituânia em 2015.
Para
poderem integrar o grupo da moeda única os Estados tiveram de
cumprir um conjunto de critérios de convergência em termos de
estabilidade monetária (taxa de inflação e taxa de juro),
disciplina nas finanças públicas (défice público e dívida
pública) e estabilidade cambial (página 252 do livro Economia e
Política da Construção Europeia, de Carla Guapo Costa).
Com
a implementação da moeda única e tendo como objetivo estabelecer e
aplicar uma política monetária comum, assegurar os sistemas de
pagamento e as operações de câmbio, surgiu em 1998 o Banco Central
Europeu, salientando-se a importância da sua independência face ao
poder político (páginas 260 a 264 do livro Economia e Política
da Construção Europeia, de Carla Guapo Costa).
Em
2008 os países integrantes do Euro enfrentariam uma grave crise
provocada essencialmente por dois fatores externos:
-
a falência do 4.º maior banco de negócios norte-americano, o
Lehman Brothers, como consequência do colapso da política de
créditos de risco, provocou uma grave do sistema financeiro
americano que viria em todo o mundo a arrastar muitos outros bancos
para situações dificeis, provocando um clima de desconfiança nos
mercados internacionais;
-
no mesmo ano assistiu-se a um quase incontrolável disparar dos
preços dos combustiveis nos mercados internacionais, por força de
ações especulativas, o que contribuiu decisivamente para fragilizar
a situação económica de muitas empresas e países;
O
período que se seguiu a esta grave crise económica e financeira de
2008, com o aumento dos custos da maioria dos bens e serviços, daria
um contributo decisivo para o eclodir da crise das divídas soberanas
que está presentemente a afetar não só os países do Euro, mas
também a economia norte-americana que já foi confrontado com a
redução do seu rating por parte das grandes agências
internacionais.
A
facilidade de obtenção de créditos levou os Estados (tal como as
empresas e as famílias) a endividarem-se fortemente, chegando a um
ponto em que começaram a não conseguir corresponder aos respetivos
pagamentos sem se endividarem ainda mais.
Perante
o clima de desconfiança que se vivia nos mercados, como consequência
da crise de 2008, esta situação fez subir as taxas dos juros
exigidos pelos investidores para continuarem a adquirir divída
pública, especialmente nos casos que mais dúvidas suscitavam.
O
país mais vulnerável da zona Euro viria a revelar-se a Grécia, mas
em breve também Irlanda , Portugal e Chipre se lhe seguiriam,
perante persistentes subidas de juros relativamente a outras
economias como a Itália ou a Espanha, chegando-se ao ponto de todas
as economias europeias poderem vir a ser atingidas por esta crise.
A
vulnerabilidade dos Estados perante a atual situação decorreu de um
conjunto de situações como a indisciplina fiscal e o descontrolo
das contas públicas. Muitas vezes promovia-se a realização de
grandes obras e lançavam-se grandes projetos, sem cuidar da
capacidade produtiva do país para conseguir gerar proveitos
suficientes com vista a fazer face aos respetivos encargos ao longo
dos anos, nem se ponderava adequadamente como se conseguiria pagar as
divídas contraídas nos mercados internacionais e que com os
respetivos juros contribuíam decisivamente para elevados déficites
orçamentais.
Um
exemplo em Portugal são os custos com as Parcerias Público-privadas
que amiúde se revelam altamente vantajosas para os grandes grupos
económicos que as integram mas com custos extremamente elevados para
o Estado.
Por
outro lado a entrada no Euro teve o efeito de impossibilitar os
Estados de desvalorizarem as suas moedas ou terem políticas
monetárias próprias, com o intuito de controlarem a inflação e
responder a situações de crise recuperando a competitividade das
suas economias. O euro tem sido uma
moeda cujo câmbio desfavorece as exportações quando comparada com
outras moedas e mostra-se demasiado inflexível neste âmbito.
Uma
dificuldade suplementar com que a Europa se defronta para conseguir
tornar a sua economia mais competitiva e conseguir assim superar a
atual crise passa pelo acentuado crescimento económico de países
emergentes como a China ou a India, capazes de produzir a custos mais
baixos gerando consequentemente receitas maiores.
A
resposta à crise por parte da União Europeia e dos países que a
integram, tem passado fundamentalmente pela tomada de duras medidas
de austeridade que penalizam essencialmente a classe trabalhadora,
com elevados aumentos de impostos e do custo de bens e serviços e a
redução de rendimentos, que tem levado à falência de muitas
empresas e à redução de postos de trabalho noutras, provocando um
constante aumento do número de desempregados com a consequente
instabilidade social, levada a uma situação extrema no país mais
afetado – a Grécia.
Estas
medidas de austeridade, sem serem acompanhadas de estimulos à
atividade económica, acabam por degradar a qualidade de vida dos
europeus, ao mesmo tempo que estagnam a economia e não levam ao
aumento de receitas por via de impostos que os governos pretendiam
conseguir com elas, impedindo, ou pelo menos criando grandes
constrangimentos, ao cumprimento das metas estabelecidas em termos de
déficites orçamentais, o que, num efeito dominó, mantém os
mercados internacionais num estado de desconfiança e vai,
gradualmente, arrastando mais países para uma situação em que
necessitam de pedir auxilio e inclusivamente a que se ponha em causa
a sobrevivência do próprio Euro ou, pelo menos, a continuação do
mesmo em todos os atuais 17 membros.
Para
salvar o Euro é necessário que os líderes europeus sejam capazes
de encontrar soluções para dinamizar uma retoma económica geradora
de emprego e qualidade devida. Os caminhos apontados não são
consensuais, enfrentando obstáculos diversos. A via seguida até
aqui, assente fundamentalmente em planos de austeridade, não tem
produzido efeitos visiveis a não ser a redução da qualidade de
vida dos cidadãos europeus, nomeadamente dos países do Sul da
Europa, mais expostos, muito por culpa própria por força da
indisciplina orçamental. A confiança dos mercados nas políticas
seguidas pelos governantes europeus continua a não se concretizar.
Não se vislumbra facilidade de consenso na regulação dos mercados,
na emissão de Eurobonds ou na diminuição de aspetos das soberanias
nacionais para permitir políticas orçamentais comuns a nível da
zona Euro.
Os
fantasmas do passado, com séculos de conflitos e divergências entre
os diversos povos e nações, continuam vivos na memória coletiva
dos Europeus dificultando uma resposta efetiva e coletiva ao problema
atualmente existente. As diferenças culturais e linguisticas, em vez
de serem assumidas como uma mais valia para o desenvolvimento comum,
permanecem como um obstáculo a uma Europa capaz de falar com uma só
voz.
A
forma como se ultrapassar a atual encruzilhada económica determinará
o futuro da Europa. A prática tem demonstrado incapacidade e uma
persistente atracção pelo abismo.
O
euro foi uma boa ideia mas mal planificada. Sem recentrar as
políticas económicas no interesse comum das pessoas não haverá
saída para a crise e o futuro do euro é certamente tempestuoso.
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