Consolidar a dívida e pagar a 100 anos



A aplicação das eufemísticamente auto-denominadas políticas de austeridade têm sido um efectivo sucesso naquilo que constitui o seu primeiro, e verdadeiramente único, objectivo – a transferência de dinheiro do mercado real para o mercado monetário (leia-se contas em off-shores de banqueiros, especuladores e corruptos), agravando os desequilíbrios macroeconómicos e aprofundando as desigualdades sociais como nunca se viu na história da humanidade.
Os governos fracos, sem carisma ou rasgo de capacidade de luta, submissos a lobbies bancários e rodeados de gente mais preocupada em se servir do que em servir, vão seguindo ordeiramente as ordens emanadas de Berlim, Bruxelas, Wall Street e quejandos.
Implementaram políticas que fragilizaram os seus países, não agiram quando o deveriam ter feito para regular mercados e banca e punir as manobras especulativas, promovendo o endividamento público para níveis insustentáveis e impossíveis de pagar.
Inaceitável em pleno século XXI a aposta de supostos dirigentes políticos na mão-de-obra barata e nos elevados níveis de desemprego (os estatísticos mas sobretudos os reais).
A facilitação dos despedimentos ao extremo e a opção política pela precariedade são efectivos retrocessos civilizacionais. Podem até resultar em países onde os rendimentos do trabalho e os reduzidos níveis de desemprego permitem às pessoas estarem algum tempo foram do mercado de trabalho, a ele regressando rapidamente e com facilidade, enquanto que o que puderam amealhar lhes permite manter essa situação sem problemas.
É absolutamente ineficaz em economias deprimidas, com números pornográficos de desemprego e rendimentos do trabalho que logo à partida eram muito baixos para permitir uma poupança efectiva.
Esta dicotomia é algo que não entra nos cérebros de quem ganha milhões para fazer nas instâncias internacionais o trabalho que interessa aos chamados mercados.
Que fazer então? Reestruturar a dívida? Não pagar? Ceder indefinidamente às chantagens de um verdadeiro terrorismo económico? Negar os resultados desastrosos do caminho que querem seguir?
O relatório do OXFAM que indica que o 1% dos mais ricos tem tanto dinheiro como os 99% restantes da humanidade deveria fazer corar de vergonha 100% da humanidade.
E é de bom tom questionar quantos destes 1% pagam impostos ou se efectivamente têm o dinheiro a salvo na praga dos off-shores…
Ainda que resultando de incompetência, corrupção e manipulação grosseira, as dívidas foram feitas e existem para se pagar e os Estados devem ser os primeiros a dar exemplo. (aqui se pergunta como será que a Alemanha vai pagar a sua astronómica dívida…ou será que essa não é pagar?).
A forma de pagar sem continuar a agravar as desigualdades económicas e sociais e alegremente a promover a pobreza e todas as suas consequências (não só por isso, mas também por isso o terrorismo se propaga mais depressa que alguns vírus…) passa pelo tempo que leva a fazê-lo…
A solução mais correcta passa pela consolidação das dívidas nacionais e o seu pagamento a 100 anos dentro de um quadro em que se deverá reformar instituições, erradicar a pobreza e redistribuir a riqueza através de uma efectiva regulação dos mercados e da banca, punindo dura e efectivamente a especulação e a corrupção e encerrando todos os offshores.
A opção que a humanidade enfrenta é simples – seguimos o actual caminho até à destruição total da sociedade tal como a conhecemos ou decidimos que os governos não existem para servir os “mercados” mas sim a humanidade e mudamos de caminho.
Será que a humanidade aprende e é capaz de mudar? Duvido…


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