Uma gatinha chamada Mia Malhadinha

Uma gatinha chamada Mia Malhadinha
No que se refere a animais de estimação, na história da minha família, pelo menos no que ao último século se refere, e antes disso não deveria haver propriamente lugar para animais, sempre nos sentimos mais próximos de gatos.
Logo em 1972 aquando da minha primeira vinda a Portugal, a casa familiar era habitada por um siamês grande e gordo, mas já adiantado na idade, de seu nome Bambino e também corriam histórias sobre o seu antecessor, um gato muito manso chamado Chico. Destas histórias guardámos como especial memória deste pequeno felino a vez em que se lembraram de lhe atar cascas de nozes às patas o que provocava uma óbvia dificuldade de circulação ao animal, à laia de patinagem artística.
Em 1979 um pequeno siamês, há época com um mês de vida, juntou-se à família. O seu nome era Pompom, mas também conhecido por Ponzito ou Gilberto Pompom. Era muito dócil mas cedo morreria com apenas quatros anos, dois meses e um dia de vida.
O segundo dono da casa seria uma pequena siamesa chamada Lola. Encontrámo-la abandonada na Mata Municipal, muito pequena e muito fraca. Todos me dizia para não me afeiçoar ao animal porque ela ia morrer. Mas a Lola era uma gatinha muito corajosa e acabou por sobreviver. Ao principio não foi fácil – tudo o que ingeria vomitava, mas corajosamente voltava a beber mais leite até o organismo o aceitar e ela ganhar força. Era um animal muito manso e meigo. Viveu apenas dois anos e quando se sentiu morrer o seu último esforço foi arrastar-se para o meu colo, onde morreu. Foi um dos dias mais tristes da minha vida.
Seguiu-se o Tigre. Um gato já mais crescido de pele tigrada. Em São Martinho do Porto entrou para o carro e adoptou a família. Viveria 16 anos e tinha um feitio difícil, para não dizer de outra forma.
Em simultâneo com ele habitaria a casa a Roberta. Uma gatinha branca, laranja e preta, também adoptada da mata e que emitia um miado característico, muito parecido com o som dos robertos e daí o seu nome.
Também contemporânea foi a Nikita. Um apequena gata preta, igualmente adoptada da rua. Nunca ultrapassou os 3 kg e tinha um grande instinto maternal (adoptou todos os outro gatos que foram passando pela casa como se fossem filhos dela). Destestava os guizos e arrancava-os a todos os gatos. Ainda pequena estava á janela do primeiro andar quando a mãe, igualmente uma gatinha vadia, a foi visitar e estiveram a olhar uma para a outra (ainda há quem diga que os animais não são inteligentes e não têm sentimentos). Com o Tigre teve dois filhotes: o Átila e o Kino Kinata.
O Átila era tigrado como o pai, gordo e manso. O Kino Kinata era um pequeno solitário com uns belos olhos cor de mel.
Ainda nessa altura alguém deixou no quintal da casa duas pequenas gatinhas brancas: a Tancinha e a Juana (inspiração de telenovelas brasileiras). A Tancinha era aventureira e a Juana era mais parecida com o Kino – sossegada, acabava arrastada pela irmã para aventuras por toda a casa.
Após a partida de todos estes amigos de quatro patas, muitos anos se passariam sem adoptar mais nenhum gato.
Até que em 2015 uma pequena gata preta, com malhas de castanha alaranjado no lombo, um nariz amarelo e manchas brancas na garganta e numa pata, surgiu no estacionamento próximo. Mantinha-se à distancia da colónia ali existente e procurava o convivio com os seres humanos. Estranha opção pois apesar de ter menos de um ano tinha uma grande cicatriz numa orelha, falta de dentes e uma sutura na barriga, sintomas de maus traos.

Sabia qual o carro em que chegava, sabia para que prédio entrava e a que horas saia (às 09:00 horas da manhã lá estava ela nos degraus à espera de um gesto ou de um simples olhar). Também identificou qual a varanda do predio e miava para pedir atenção e comida. Quando mereceu um nome – Mia Malhadinha, estava consumada a adopção de parte a parte.
Com as primeiras chuvas de Outono, a Mia estava encolhida com frio junto ao prédio fronteiro, e a 27 de Outubro de 2015 a pequena malhadinha tornou-se habitante da casa.
Agora é uma gatinha feliz, tem comida, tem uma caminha com cobertores quentinhos (ainda que prefira a dos donos), tem segurança, tem atenção e mimos. Adora brincar com caixas de cartão, fitas e pequenos ratos de brincar. Acorda de madrugada com fome e não hesita em pedir pra lhe irem dar comida. Também gosta de espreitar a rua (qual é o gato que não gosta?).
Esta foi uma gatinha feliz e com sorte, mas quantos mais não podem dizer o mesmo?




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