O
tema, escaldante, do momento é o Brexit – o referendo que poderá
eventualmente levar o Reino Unido a deixar a (des)União Europeia.
Declaração
de interesses prévia: sou por formação e por convicção
europeísta. Acho que, respeitando-se as identidades culturais,
sociais, linguísticas, religiosas e outras cuja diversidade
constitui a maior riqueza deste continente e deste projeto, faz todo
o sentido continuar a aprofundar o projecto europeu.
Só
uma Europa unida pode garantir a paz, o progresso e um futuro que se
deseja radioso para todos os europeus sem excepção.
Também
convictamente não acredito nesta Europa que não quer saber dos
europeus, vitima dos egos de alguns e enferma de doenças coma
promiscuidade entre os poderes financeiro e político, a corrupção,
a fuga, consentida, de capitais para paraísos fiscais, o
aprofundamento das desigualdades, a aposta na mão-de-obra barata, a
mediocridade e ausência de ideias, de ideais, de convicções e de
carisma de liderança e a total ausência de um sentimento ou
comportamento democrático nas instâncias europeias.
E
são exactamente estas as doenças de que a Europa enferma que levam
a que se chegue à beira de um Brexit (e não se duvide que se o Brexit se concretizar outros
exits se seguirão), ao absoluto desnorte na gestão da
questão dos refugiados (e das respectivas causas), da insegurança
na Europa, do aumento da pobreza e das desigualdades (mais nuns
sítios do que noutros, ou não fossem todos os europeus iguais, mas
alguns mais iguais do que os outros…)…
A
Europa, por quem devia governar não querer saber dos europeus, é hoje um barril de
pólvora e isso é bem visível no extremar de posições no reino de
Sua Majestade (que já degenerou em violência), no crescimento dos partidos de extrema esquerda ou de
extrema direita um pouco por toda a Europa, ou na incapacidade de
formar um governo em Espanha…
O
que faz a Comissão Europeia, o Parlamento Europeu e afins? Bom,
enquanto continuarem a ser principescamente remunerados e
recompensados com cargos (que não empregos) bem pagos nas
instituições financeiras e nos grandes grupos económicos que
manipulam e beneficiam da alegada crise que afecta a Europa, não
fazem nada a não ser uma declarações para inglês ver (ou neste
caso nem isso porque metade dos ingleses já não dá para este
peditório) e interferir, de forma claramente ilegítima e anti-democrática, nas decisões, legitimas e democráticas (mesmo que discutíveis), dos povos que integram a dita União dita Europeia.
Claro
que esta questão do Brexit só se coloca hoje por um erro crasso do senhor
Cameron, que quis usar o referendo à permanência como forma de
pressão sobre a Europa para atingir os fins que pretendia mas, como à semelhança
da generalidade dos outros que ocupam lugares de liderança, não tem
capacidade ou visão para tal, não anteviu o óbvio e viu-se agora confrontado com a
possibilidade de ser vitima da sua própria habilidade...
E
se o Brexit ganhar? Bom, democraticamente a Europa pode sempre forçar
a repetição do referendo tantas vezes quantas as necessárias até
ganhar a permanência… (estou a ser irónico, mas já aconteceu no passado e esta é uma ideia que deve ter passado por muitas cabecinhas pensadoras em Bruxelas...aliás prova disso é um Think Tank sediado em Bruxelas que teve uma epifania e descobriu que o voto pela saída não é legalmente vinculativo (pressupõe-se que na mesma epifania tenham visto que o voto pela manutenção é legalmente vinculativo...enfim, estamos no reino do vale tudo para manter o status de uma pretensa elite profundamente medíocre e dos interesses por ela defendidos (qualquer semelhança com o interesse público é mera coincidência...)
Se
eu fosse súbdito da Rainha Elizabeth II, por convicção e formação
a minha primeira tendência seria votar pela permanência acreditando
(ingenuamente) que a Europa um dia há-de mudar e começar a
interessar-se pelos europeus, mas, em face do comportamento
chantagista e vergonhosamente antidemocrático com raios de
totalitarismo notórios nas intervenções dos responsáveis(?)
europeus, ver-me-ia constrangido a engolir um sapo vivo e votar pela
saída.
A
Europa, para ser viável, precisa de ser urgentemente refundada.
É
preciso que as instâncias europeias sejam orgãos democráticos e
comecem a interessar-se e a respeitar os europeus.
É
preciso promover o combate à corrupção e à fuga para paraísos
fiscais do dinheiro e não apenas limitando-se a discursos ocos e sem
seguimento (por clara falta de vontade política). Os paraísos fiscais são perfeitamente inúteis na economia e já há muito que deviam ter sido banidos...
É
preciso promover a igualdade entre todos os europeus (igualdade
fiscal, salarial e de direitos).
É
preciso promover a regulação da banca e dos mercados. Incrível como setenta anos bastaram para quem decide esquecer o que aconteceu em Outubro de 1929 em Wall Street - iliteracia, falta de cultura e de formação dos governantes...
São
precisas leis anti-trust eficazes. As pequenas e médias empresas economicamente viáveis são vitais para uma economia que se deseja pujante.
É
preciso promover a erradicação do desemprego e da pobreza. Quando é que quem manda aprende que não-de-obra barata não leva a lado nenhum?
É
preciso implementar a estanquicidade entre o poder político e o
poder económico (ninguém pode exercer funções públicas (eleitos
ou assessores e similares) sem passar um período de dez anos após
sair de instituições financeiras e quando deixar de exercer funções
públicas deve ter um período de 10 anos sem poder ir trabalhar para
instituições financeiras).
É
preciso rever a formação ética e social dos eleitos em todos os
níveis (não seria mal pensado que todos, desde os membros das
assembleias de freguesia ao Presidente da Comissão Europeia,
incluindo assessores e quejandos, serem obrigados por lei a
semanalmente despenderem um determinado número de horas em trabalho
social no terreno (e sem acólitos a fazerem o trabalho duro. Pode
ser que assim aprendessem o que custa a vida, as consequências das
más decisões que tomam e não se veja mais nenhuma criatura a dizer
que desta vez não foi o mexilhão quem se lixou.)
Acima
de tudo é preciso que quem governa aprenda que na Europa existem
europeus que devem são seres humanos que devem ser respeitados e que não são meros números a
sacrificar no altar dos supremos mercados.
Brexit
or not to Brexit? Claramente Brexit. Pode ser que isso mude alguma
coisa na Europa. Not to Brexit é manter tudo no mau caminho e mais
cedo ou mais tarde o projecto europeu vai ter um fim... trágico
provavelmente... lamentavelmente...
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