Déficit, sanções e quejandos




O tema do momento na actualidade política é a aplicação, ou não, de sanções e, em caso de aplicação, que tipo de sanções.
Desde logo a discussão está inquinada de origem – porque motivo é que um orçamento de Estado há-de ter 3% de deficit e não há-de ter 2 ou 4 ou 5, ou 3,5%? Ainda ninguém se atreveu sequer a tentar explicar a opção por este valor.
O que é natural e fica bem é o orçamento de um Estado ter, no pior dos cenários, a despesa e a receita equilibrada e, preferencialmente, superavit. Se não está equilibrado é porque está mal gerido e logo aí as coisas começam a correr muito mal (salvo em situações de excepção, a existência de deficit resulta desde logo no crescimento da dívida, o que não deveria suceder…)
Depois é bom de ver o que causa esse deficit e a enorme dificuldade em o eliminar – a dívida pública e respectivos juros (reféns dos interesses económicos de quem está por detrás dos chamados “mercados”), os péssimos negócios (no caso português) a que chamaram parceira spúblico privadas (em que o lucro do privado é maximizado e sempre garantido), a desregulação de mercados e banca (vide quantos bancos já estoiraram e quantos estão em vias de o fazer incluindo, pasme-se, o Deutsche Bank) e a promiscuidade entre o poder financeiro e o poder político (a transferência de Durão Barroso para o Goldman Sachs (um dos maiores culpados da actual crise e que andou anos a enganar a ensinar a Grécia a enganar a Comissão Europeia presidida por Barroso) é o pior dos exemplos de falta de ética política, mas não é o único, só em Portugal temos Gaspar no FMI e Albuquerque na Arrow) que resulta no controlo das instituições europeias e nacionais por parte de homens de confiança de bancos como o Goldman Sachs e de instituições financeiras, para já não falar das agências de rating cuja função é servir os superiores interesses que os seus proprietários têm em fundos de investimento especulativo).
O problema da crise da dívida pública não é, nem nunca foi, o já muito baixo custo da mão-de-obra ou os parcos direitos que os trabalhadores foram conquistando, mas sim a desregulação, a promiscuidade e a corrupção generalizadas.
As ameaças de sanções não têm como objectivo repor o deficit mas sim pressionar os governos a serem obedientes aos ditames dos mercados a quem as instâncias europeias devem lealdade, na expectativa de um dia mais tarde serem recompensados com, digamos, empregos altamente remunerados (é curioso que quem é incompetente em cargos europeus seja considerado merecedor de empregos super bem pagos nas instituições que andam a destruir a Europa).
Depois a segunda questão é a Alemanha. Precisa de manter os Estados europeus submissos por dois motivos: para conseguir na secretaria o que nunca conseguiu nos campos de batalha (mandar na Europa) e depois para evitar que a própria Alemanha caia em crise económica (e muito tem a Alemanha lucrado com a miséria dos parceiros europeus). Solidariedade europeia é um apalavra vã no que respeita á Alemanha de Merkel, Schauble e companhia.
A terceira, e se calhar a principal questão, é saber se a prioridade desta Europa é o deficit. Não deveria uma Europa séria colocar como prioridades o combate ai desemprego, ao aprofundamento das desigualdades sociais, à corrupção, à insegurança e às causas do deficit (desregulação da banca e dos mercados e a fraude fiscal muito bem representada pelos paraísos fiscais simpaticamente denominados off-shores)?
Claro que deveria, não existe é a mínima vontade política de o fazer.
O processo europeu podia e devia ser aprofundado, equalizando em todo o espaço comunitário salários e impostos, direitos e deveres, respeitando os valores humanistas em que assenta a própria ideia de Europa e a diversidade de culturas, línguas e história.
Mas esta não é uma Europa séria. É uma Europa que não quer saber dos Europeus, uma Europa sem ética, sem valores, sem moral e sem líderes, uma Europa refém de inconfessáveis interesses económicos. Esta é uma Europa que precisa de ser refundada.
A não o ser, será uma Europa que gradualmente se irá desagregando e afundando em conflitos regionais, com o rápido (e temo que imparável) crescimento de extremismos (de direita e de esquerda) que acabarão por destruir o sonho de uma Europa livre, próspera, fraterna e igual.
Para isso são precisos líderes com carisma, ideias, vontade e capacidade, livres de interesses económicos (apontem-me um único na actual Europa com estas características…)

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