Terra 2069 - 7



No céu escaldante sobre aquilo que outrora fora a maior área de floresta do planeta Terra e que hoje pouco mais era do que um enorme deserto, destacava-se a silhueta cinzento prata de um transportador com as insígnias da Guarda Galáctica.
No solo apenas eram visíveis uns pequenos oásis verdes e muitas, muitas ruínas de cidades outrora cheias de vida mas que a falta de água, o calor e o excesso de população tornaram locais onde a vida era dura… muito dura…
Próximo do planalto andino onde outrora se situara uma cidade chamada Cuzco, o transportador procurou no solo um espaço onde pudesse deixar em segurança os seus passageiros.
Por estes rochedos andara havia pouco o General Audax com uma companhia de Gharbs. O que procurava ele constituía um mistério que poderia fazer luz sobre toda esta trapalhada…
Pouco após a saída do transportador um nativo surgiu por trás de uma rocha empunhando uma lança e um arco, e fez sinal a Yancy:
- A tua chegada era aguardada Prometida… o Ancestral está a chegar ao fim do seu ciclo de vida e tinha antecipado que virias – cito o índio, falando a língua de Kasheer para grande surpresa de Yancy e de Leemy…
Conduziu-os por carreiros na rocha e durante mais de duas horas esforçaram-se por acompanhar o novo guia, tentando não cair e desconhecendo como sabia falar uma língua de um planeta a dezenas de anos luz de distância, como sabia quem eles eram, para onde os levava e quem seria o Ancestral…
Apesar de cientes que o arco e flecha do nativo não eram ameaças não deixavam de perscrutar o que os rodeava não fosse surgir alguma ameaça…
Audax não tivera esta recepção – o relatório dizia que andaram quase um mês perdidos nas montanhas sem nada encontrarem, fosse o que fosse aquilo que buscavam…
O nativo indicou-lhes a entrada de uma pequena gruta escavada na rocha que até para olhos treinados como os de Yancy e Leemy poderia facilmente passar despercebida…
Cautelosos entraram …
Para grande surpresa dos recém-chegados Havi, o índio, tocou num dispositivo em tudo similar ao existente no apartamento de Ambors e uma porta surgiu na rocha, levando a um elevador gravítico com capacidade para transportar uma dezena de seres…
Após longos minutos de viagem (que indiciavam a profundidade a que estavam a ser conduzidos) desembocaram num corredor metálico ao fundo do qual se via uma câmara do tamanho de um campo de jogos, recheada de tecnologia, parte dela para além da capacidade de compreensão de dois elementos de elite da Guarda Galáctica…
Um único ser estava neste enorme espaço…
Alto e magro, a pele de um forte azul cobalto encontrava-se vincada por inúmeras rugas, sinalizando uma longa vida…
Estava sentado e com uma respiração difícil…
- Comandante Yancy – articulou de forma sumida – a previsão estava certa… Tendes uma importante missão à vossa frente e tenho muito pouco tempo para vos colocar a par de tudo o que está em jogo.
- Como sabia que eu vinha? Quem sois? – interrogou uma cada vez mais perplexa Yancy…
- Azor dos Athlant … foi esse o nome que os meus antepassados me deram…
Athlant… o mítico povo que guarda o santuário do conhecimento … têm vidas que se medem por milhares de anos e aqueles que não são devotados ao serviço do santuário viajam pelo Universo estabelecendo bases de recolha de conhecimento e aí permanecem a vida toda… poucos seres se chegam a cruzar com eles…
- Há mais de dez mil anos que me encontro neste planeta e está a chegar o fim do meu ciclo e precisais de saber alguma história… Quando a terra foi descoberta pelos primeiros exploradores espaciais o Conselho galáctico decidiu preservá-lo como reserva biológica do universo interditando o acesso ao mesmo… era um planeta sem grandes riquezas, fora de todas as rotas mas com um grande potencial… Todavia depressa jovens guerreiros ansiosos por acção fizeram deste planeta uma reserva de caça… Um asteróide ao embater na superfície alterou muito do que aqui se passava… entretanto uma raça com traços humanóides evoluiu, tomou conta do planeta e prometeu tornar-se um problema para o Conselho Galáctico… As expedições dos comandantes Zeu e Osir infringiram as regras e interagiram com os humanos provocando uma evolução mais rápida do que o desejável… Zeu era muito ambicioso e desenvolveu uma arma biológica capaz de manipular por completo a evolução de uma raça ou de um planeta ou até de as destruir… As duas naves acabaram destruídas na batalha do cinturão de asteróides, mas ninguém sabe onde ficou a arma… nem aos Athlant foi dado conhecer tão negro saber… Todavia o conhecimento da sua existência perdurou e chegou até quem deseja lançar o caos no Universo… foi isso que levou à retirada da interdição da Terra e que vos colocou neste mesmo local…
- Uma arma biológica perdida à milénios? – estranhou Yancy…
- A arma a que alguns humanos chamaram Ragnarok e incluíram no seu folclore com roupagens diferentes mas que significam tão somente o fim-do-mundo… Ambors era um fraco mas as leituras levaram-no á luz e preparava-se para avisar o Conselho Galáctico do que se estava a passar. Infelizmente não foi possível protegê-lo… Foi preciso mover muitas influências para que a missão de descobrir tão devastadora arma fosse entregue à Prometida que sois vós…
Entregou um disco com informação a Yancy e, sentindo-se perder a força, ainda disse:
- Irei regressar ao Santuário para me juntar aos meus antepassados… para o bem do Universo desejo que consigais concluir com êxito a missão que os poderes supremos vos confiaram no dealbar da história…

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