No céu escaldante sobre aquilo que outrora fora a maior área
de floresta do planeta Terra e que hoje pouco mais era do que um enorme
deserto, destacava-se a silhueta cinzento prata de um transportador com as insígnias
da Guarda Galáctica.
No solo apenas eram visíveis uns pequenos oásis verdes e
muitas, muitas ruínas de cidades outrora cheias de vida mas que a falta de
água, o calor e o excesso de população tornaram locais onde a vida era dura…
muito dura…
Próximo do planalto andino onde outrora se situara uma
cidade chamada Cuzco, o transportador procurou no solo um espaço onde pudesse
deixar em segurança os seus passageiros.
Por estes rochedos andara havia pouco o General Audax com
uma companhia de Gharbs. O que procurava ele constituía um mistério que poderia
fazer luz sobre toda esta trapalhada…
Pouco após a saída do transportador um nativo surgiu por trás
de uma rocha empunhando uma lança e um arco, e fez sinal a Yancy:
- A tua chegada era aguardada Prometida… o Ancestral está a
chegar ao fim do seu ciclo de vida e tinha antecipado que virias – cito o índio,
falando a língua de Kasheer para grande surpresa de Yancy e de Leemy…
Conduziu-os por carreiros na rocha e durante mais de duas
horas esforçaram-se por acompanhar o novo guia, tentando não cair e
desconhecendo como sabia falar uma língua de um planeta a dezenas de anos luz
de distância, como sabia quem eles eram, para onde os levava e quem seria o
Ancestral…
Apesar de cientes que o arco e flecha do nativo não eram
ameaças não deixavam de perscrutar o que os rodeava não fosse surgir alguma
ameaça…
Audax não tivera esta recepção – o relatório dizia que
andaram quase um mês perdidos nas montanhas sem nada encontrarem, fosse o que
fosse aquilo que buscavam…
O nativo indicou-lhes a entrada de uma pequena gruta escavada
na rocha que até para olhos treinados como os de Yancy e Leemy poderia
facilmente passar despercebida…
Cautelosos entraram …
Para grande surpresa dos recém-chegados Havi, o índio,
tocou num dispositivo em tudo similar ao existente no apartamento de Ambors e
uma porta surgiu na rocha, levando a um elevador gravítico com capacidade para
transportar uma dezena de seres…
Após longos minutos de viagem (que indiciavam a profundidade
a que estavam a ser conduzidos) desembocaram num corredor metálico ao fundo do
qual se via uma câmara do tamanho de um campo de jogos, recheada de tecnologia,
parte dela para além da capacidade de compreensão de dois elementos de elite da
Guarda Galáctica…
Um único ser estava neste enorme espaço…
Alto e magro, a pele de um forte azul cobalto encontrava-se
vincada por inúmeras rugas, sinalizando uma longa vida…
Estava sentado e com uma respiração difícil…
- Comandante Yancy – articulou de forma sumida – a previsão
estava certa… Tendes uma importante missão à vossa frente e tenho muito pouco
tempo para vos colocar a par de tudo o que está em jogo.
- Como sabia que eu vinha? Quem sois? – interrogou uma cada
vez mais perplexa Yancy…
- Azor dos Athlant … foi esse o nome que os meus
antepassados me deram…
Athlant… o mítico povo que guarda o santuário do
conhecimento … têm vidas que se medem por milhares de anos e aqueles que não são
devotados ao serviço do santuário viajam pelo Universo estabelecendo bases de
recolha de conhecimento e aí permanecem a vida toda… poucos seres se chegam a
cruzar com eles…
- Há mais de dez mil anos que me encontro neste planeta e
está a chegar o fim do meu ciclo e precisais de saber alguma história… Quando a
terra foi descoberta pelos primeiros exploradores espaciais o Conselho galáctico
decidiu preservá-lo como reserva biológica do universo interditando o acesso ao
mesmo… era um planeta sem grandes riquezas, fora de todas as rotas mas com um
grande potencial… Todavia depressa jovens guerreiros ansiosos por acção fizeram
deste planeta uma reserva de caça… Um asteróide ao embater na superfície alterou
muito do que aqui se passava… entretanto uma raça com traços humanóides
evoluiu, tomou conta do planeta e prometeu tornar-se um problema para o
Conselho Galáctico… As expedições dos comandantes Zeu e Osir infringiram as
regras e interagiram com os humanos provocando uma evolução mais rápida do que
o desejável… Zeu era muito ambicioso e desenvolveu uma arma biológica capaz de
manipular por completo a evolução de uma raça ou de um planeta ou até de as
destruir… As duas naves acabaram destruídas na batalha do cinturão de asteróides,
mas ninguém sabe onde ficou a arma… nem aos Athlant foi dado conhecer tão negro
saber… Todavia o conhecimento da sua existência perdurou e chegou até quem
deseja lançar o caos no Universo… foi isso que levou à retirada da interdição
da Terra e que vos colocou neste mesmo local…
- Uma arma biológica perdida à milénios? – estranhou Yancy…
- A arma a que alguns humanos chamaram Ragnarok e incluíram
no seu folclore com roupagens diferentes mas que significam tão somente o
fim-do-mundo… Ambors era um fraco mas as leituras levaram-no á luz e
preparava-se para avisar o Conselho Galáctico do que se estava a passar. Infelizmente não foi possível protegê-lo… Foi
preciso mover muitas influências para que a missão de descobrir tão devastadora
arma fosse entregue à Prometida que sois vós…
Entregou um disco com informação a Yancy e, sentindo-se
perder a força, ainda disse:
- Irei regressar ao Santuário para me juntar aos meus
antepassados… para o bem do Universo desejo que consigais concluir com êxito a
missão que os poderes supremos vos confiaram no dealbar da história…
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