Caminhei
durante algumas horas pela vila, percorrendo a generalidade das ruas que tão
bem conhecia…
Não me
atrevia a forçar a entrada em nenhuma habitação e muni-me de uma enorme cautela
em todos os passos – não sabia o que sucedera ou que estava atrás de cada
esquina…
X.
estava cansada… não estava habituada a andar tanto mas também não se atrevia a perder-me
(tanto quanto sabia éramos os únicos sobreviventes do que quer que fosse que
tinha acontecido…)
Os meus
maus pressentimentos diziam-me que íamos encontrar outros sobreviventes e na
maioria dos caos não ia correr bem…
Ao
almoço dedicara-me a estudar as armas para o caso de as ter de usar (não sei se
seria capaz de a usar contra outro ser vivo, mas só na hora da verdade é que
sabemos do que somos capazes…)
Estava
a começar a aproximar-se a noite e tinha de decidir o que fazer – pernoitar na
vila ou tentar chegar a uma das aldeias? Ir a pé ou arriscar uma viatura (além
do meu e do carro da X. já tinha encontrado várias viaturas abertas e com a
chave na ignição…)
A ausência
de trânsito levava-me a presumir que o acontecimento tinha sido muito
abrangente…
Até à
aldeia mais próxima levaríamos 10 minutos… uma vez lá teríamos de dar uma
volta, coisa de 30 / 40 minutos, e depois arranjar abrigo…
Não
arrisquei levar carro e apesar de cada vez mais cansada, X. seguiu-me… pena de nenhum
dos dois ter aprendido a andar de bicicleta…
Começámos
a percorrer as ruas estreitas e cheias de curvas, atento a qualquer sombra ou
movimento…
Tex e
Mia seguiram-nos num sentimento de segurança pela nossa proximidade… numa das
ruas, perto de uma vivenda ficaram em posição de defesa espetando as orelhas…
um rápido olhar revelou um leve movimento numa cortina… alguém estava naquela
casa (e eu até sabia de quem era, só não sabia quem lá estava)…
Arrisquei…
- Podes
abrir… não sei o que sucedeu esta noite mas presumo que estamos todos na mesma
situação…
Após
longos e dolorosos minutos a porta entreabriu-se e um rosto assustado, moreno e
magro, que na minha adolescência me fizera acelerar o coração surgiu… N. continuava
a mexer comigo e ficava satisfeito de a saber sobrevivente…
Entrámos
os três com os dois gatitos a esgueirarem-se para dentro de casa, temerosos de
serem deixados de fora…
Também
acordara a meio da noite e toda a família tinha desaparecido… não sabia como
nem porquê… saíra à rua e não vira ninguém, só uns tubos a elevarem-se nos céus…
com receio fechara-se em casa e passara o dia a tentar contactar alguém sem
sucesso…
Entre
as que tinha em casa e as que tínhamos trazido, as provisões dariam para 3 ou 4
dias sem problemas…
Anoitecendo,
preocupei-me em garantir o fecho de todas as portas e janelas… Naquela noite
ficaria de vigília (estava habituado a não dormir) mas de futuro teríamos de
fazer turnos…
N. e X.
deitaram-se nos sofás da sala, com Tex e Mia aninhados nelas… em breve os
quatro dormiam… sorri…
Procurei
um livro e sentei-me na esquina da sala virado para a janela exterior… a luz
falhara e ninguém cuidara de a repor… a água ainda corria nas
torneiras… as pistolas e a espingarda repousavam ao meu lado perto de alguma
fruta e de leite chocolatado…
Preparei-me
para uma longa noite, ignorando se o que se passara na anterior se iria ou não
repetir…
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