Estou exausto… isto não é para mim…
Procuro Z. … vi-a durante a luta a ajudar Catherine e X. com
os feridos… repousa ao fundo da sala que serve para as reuniões… está
visivelmente cansada…
N. está ao fundo do corredor e franze o nariz… (fica-lhe bem,
diga-se de passagem…)
Não incomodo Z. – deixo-a descansar e aproximo-me de N. …
- Vou sair para testar uma teoria… - digo-lhe…
- Estás bom da cabeça? Depois do que se passou hoje vais
fazer o quê fora da vedação…
- Hoje até nos safámos… mas há mais dois grupos que não sei
o que vão fazer… e depois há mais… - conto-lhe o que Vasco me narrou…
- E sabendo isso vais sair? Para quê? Mudar o que aconteceu
sozinho? – reclama incrédula…
- O que tem de ser tem muita força já diz o povo…
- Vou contigo… a menos que prefiras levar a tua amiguinha…
Noutras circunstâncias era capaz de achar piada, agora
limito-me a suspirar e tentar argumentar…
- Nope… vou melhor sozinho… é perigoso e nem sei o que possa
acontecer…
15 minutos depois estamos a sair os dois da zona da escola (impossível
de a convencer…)
Passamos perto da prisão… hoje está tudo fechado e pelo
menos uma dúzia de guardas nos muros…
Seguimos pela via externa passando por vários grandes armazéns
e stands… a primeira grande superfície está fechada e sem sinais de entrada…
Subimos a rua… é uma rampa acentuada e N. não deixa de
mostrar o cansaço que sente… pena que quando éramos miúdos eu não soube… não
interessa…
Passamos por uma zona de vivendas e por duas escolas… nem
sinais de vida ou de arrombamentos… ou eu estou muito enganado ou a minha
teoria está certa…
Aproximamo-nos das traseiras do hospital…
No escuro distinguimos um objecto metálico do tamanho de um
autocarro…
N. olha para mim… sim também percebeu – é um dos tubos… o
professor Álvaro tinha razão… agora a questão é o que faz aqui e quem é que
afinal se instalou no hospital…
Duas esferas metálicas orbitam o espaço do hospital… vigilância…
e não é humana…
Isto é tudo tão surreal que o melhor é fazer algo absurdo…
vou entrar no hospital e pela porta da frente… sussurro o plano a N. – acho que
está pronta a dar-me um tiro…
- Não podes estar bem… descobres que estão cá os seres que
causaram tudo isto e queres entrar pela porta da frente do edifício onde eles
estão? Já perdi as minhas filhas e o meu irmão, não te quero perder também a ti…
- reclama
Sorrio… apesar do cansaço e da confusão toda, sorrio…
Digo-lhe para ficar escondida e se eu não regressar voltar
depressa para a escola…
Olha para mim e abana a cabeça… teimosa…
- Se arranjas maneira de morrer, mato-te a seguir… ouviste?
Levanto-me e ela segue-me…
Espero que as esferas estejam fora de vista e esgueiramo-nos
pela praça da entrada… abro a porta e nem sinal de vida… ou são muito
confiantes ou então isto é estranho…
Entramos nas urgências e percorremos os corredores e as várias
salas…alguns doentes ficaram e acabaram por morrer sem assistência… fora isso
nada…
Procuro escadas… ao topo do primeiro lance um corpo… humanóide
mas visivelmente não humano… dedos com membranas, olhos enormes e salientes e
um tom algures na paleta dos cinzentos… não tem ferimentos visíveis…
Em breve encontramos mais… 2, 5, 12… ok… mais um mistério a
juntar a tantos outros…
Nenhum tem armas ou ferimentos…
Faço sinal a N. e vamos para a parte de trás do hospital…
quero ver o bendito tubo…
Tem pouco mais de 15 metros de cumprido… na parte de trás são visíveis
uns círculos (imagino que os motores) e por baixo existem seis pares de uns
aparelhos paralelos (imagino que seja o que os faz levitar)… não há luzes nem
entradas visíveis…
Para desagrado de N. aproximo-me da frente e o tubo reage…
abre-se uma entrada… sério? Não vou fazer aquilo que vou fazer a seguir… (N. quase
cai ao perceber o que vou fazer…)…
Entro na nave… à esquerda existe uma espécie de consola de
comando com 4 lugares… ao fundo um túnel escuro com outra consola próxima… (o
prof. Álvaro de alguma forma tinha razão)…
Começo a sentir-me insuportavelmente desconfortável e saio…
Regressamos à escola… X. e Z. fizeram um bom trabalho a
organizar tudo… restam 175 pessoas…
As lágrimas vêm aos olhos de X. ao verem-nos regressar… Z. sorri…
N., está furiosa comigo (e ainda mais com o sorriso de Z.), mas a forma como
narra o que sucedeu põe as outras duas a olhar para mim como se fosse uma espécie
de lenda…
Tex vem a choramingar pedir comida… Mia ronrona e até o pónei
está cá fora apesar da hora avançada…
Mantenho a informação reservada aos quatro… (sempre confiei
em Z. e agora tenho absoluta confiança também em X. e em N. …)
X. e Z. levam os animais e vão descansar…
N. senta-se ao pé de mim nos degraus da entrada da escola…
- Porque é que és sempre assim? – pergunta…
- Não sei… defeito de nascença… – arrisco – às vezes há
coisas que têm de ser feitas… e não posso parar a pensar…
- Porque é que não fizeste isso quando éramos adolescentes?
- hmmm?
- Porque é que nunca quiseste saber a minha resposta?
(oops… isto tinha de acontecer num momento complicado e sem
eu estar preparado)
- Tinha muito medo que a resposta fosse não…
- Como sabias isso? Já pensaste o que teria sido a nossa
vida se tivesses perguntado e a resposta fosse outra?
- Sim… todos os dias… e a resposta era outra?
- Não preferes perguntar à tua amiga?
- Depois de tudo o que se tem passado só isso para me fazer
rir…
Dá-me uma palmada no braço…
- Isto é sério…
- Ela é muito especial para mim por mais razões do que te
poderia contar… mas não é o que pensas… e se repetisse a pergunta agora? A
resposta ainda seria a mesma?
É a vez dela ficar vermelha… mas foi ela que levou a
conversa por aqui…
- Não te quero perder como perdi há tantos anos atrás…
devias ter pedido a resposta… e sim, se repetires a pergunta a resposta é a
mesma…
Levanta-se e regressa ao interior da escola… eu não sei se
ria se chore… que burro que eu sou… que confusão em que estou metido… só sei
que tenho de nos pôr a salvo e resolver esta charada para seguir o meu destino…
Imperceptível para quem está no solo, no céu uma esfera
desliza silenciosamente afastando-se da escola…
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