Fevereiro, dia de muito frio – as temperaturas dificilmente
chegam aos 6º pela hora de almoço…
O encarregado vem ter comigo a meio da tarde para
reclamar que o Fernando não estava em casa e perderam meia tarde de trabalho
por isso…
O Fernando é um utente que a minha equipa
acompanha há alguns anos… graves problemas respiratórios desloca-se sempre com
uma botija de oxigénio… vive no que resta da casa dos pais … não sendo uma ruína
para lá caminha… a mãe e os sete irmãos não querem saber nem da casa nem do
Fernando…
É estranho, estava avisado que ia lá uma equipa
remover o entulho e o lixo do quintal…
Pelas 18:00 horas saio do trabalho e vou lá… a
televisão está com o volume no máximo mas ninguém abre a porta…
Como estou de escala volto a passar pelas 20:00
horas … o cenário é o mesmo…
Ao terminar a distribuição alimentar volto a ir lá
pelas 21:00 horas… o termómetro já marca os zero graus… o cenário mantém-se…
algo não está bem… com este frio e os problemas respiratórios que tem não há-de
andar a passear por aí…
Contacto alguns membros da equipa para ver se
alguém pode ir ter comigo mas ninguém está disponível… ligo para a irmã do
Fernando que mora na rua ao lado mas ela não quer saber do assunto…
Os colegas vão-me enviando mensagens a incentivar
a não desistir e a não sair sem conseguir entrar na casa…
21:30 vou aos bombeiros explicar a situação e ver
o que posso fazer… só podem agir se eu estiver no local …
22:00 horas… Regresso e volto a insistir … nada…
22:15 horas … as luzes acendem-se e a porta
abre-se… um cambaleante Fernando aparece dentro de casa…
Com dificuldade conta-me que recebeu o almoço que
a Misericórdia lhe levou, mas depois sentiu-se mal e caiu no chão… ouvia bater à
porta e chamar mas não conseguia levantar-se ou responder… só agora reuniu
forças para o fazer…
22:30 horas Chamo os bombeiros … acham que deve
ir para o hospital… não quer… pergunto-lhe se quer que um colega de equipa por
quem tem especial reconhecimento tenha de se levantar apesar de estar doente e
ir lá convence-lo… diz que se é para não incomodar esse colega então aceita ir
ao hospital…
23:00 horas segue na ambulância… o termómetro
marca dois graus negativos…
Duas semanas depois o hospital dá-lhe alta e
arranjam uma ambulância para o deixar nos degraus de casa… como não tem força
para andar sou eu e um colega que o levantamos, levamos à casa de banho e depois
deitamos…
Pouco mais de um mês depois regressa ao hospital,
onde permanece um mês após o que segue para unidade de cuidados continuados onde
vem a falecer ao fim de menos de um mês…
Se não fossemos todos os dias para o terreno
visitar aqueles que apoiamos, o Fernando teria morrido sozinho no chão de casa
e sabe-se lá quando é que alguém o descobriria…
Estes casos de solidão doem-me muito…
February, very cold
day - temperatures rarely reach 6 ° by lunch time ...
The attendant comes
to me at mid-afternoon to complain that Fernando was not home and he lost half an
afternoon work ...
Fernando is a patient
that my team has been following for some years ... with serious respiratory problems
he always walks with an oxygen bottle ... he lives in what remains of his parents'
house ... not being a ruin its close to be one ... the mother and the seven brothers
They
do not want to know either the house or Fernando ...
It's strange, I warned him that a team was going to remove the rubbish and garbage from his yard
...
By 6:00 p.m. I leave
work and go there ... the television is on full volume but nobody opens the
door ...
As I'm on a social duty that night I'll be back by 8:00 p.m. ... the scenery is the same ...
At the end of the
food distribution I go back there by 9:00 p.m. ... the thermometer already
marks zero degrees ... the scenario remains ... something is not well ...
with this cold and the respiratory problems you have, he will not went to walk
around…
I contact some team
members to see if someone can come to help me but nobody is available ... I call
Fernando's sister who lives in the street next door but she does not want to know
about the subject ...
The colleagues are
sending messages to encourage me not to give up and not leave without being
able to enter the house ...
9:30 pm I'm going to
the fire department to explain the situation and see what I can do ... they can
only act if I'm in the place ...
10:00 p.m. ... I
return and I insist again ... nothing ...
10:15 pm ... the lights come on and the door opens ... a reeling Fernando appears inside the house ...
10:15 pm ... the lights come on and the door opens ... a reeling Fernando appears inside the house ...
With difficulty he
tells me that he received the lunch that the Misericórdia took him, but then he felt
ill and fell to the ground ... he heard knock on the door and call but could
not get up or answer ... only now he gathered the strength to do it ...
10:30 pm I call the
firemen ... they think he should go to the hospital ... but do not want ... I ask
him if he wants that a teammate for whom he has a special recognition has to get up despite
being sick and go there to convince him ... he says That
if it is not to bother this colleague then he agrees to go to the hospital ...
11:00 p.m. - in the
ambulance ... the thermometer marks two negative degrees ...
Two weeks later the
hospital discharges him and arranges an ambulance to leave him on the steps of
the house ... since he does not have the strength to walk, it's me and a
colleague who raise him, we take to the bathroom and then we lay him down ...
Just over a month
later he returns to the hospital, where he remains a month after that he goes
to a continuous care unit where he dies after less than a month ...
If we were not every
day in the terrain to visit those we supported, Fernando would have died alone
on the floor of the house and we dont know when someone would find out ...
These cases of loneliness hurt me a lot ...
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