Poem by Mia Couto

Solidão

Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros
e as coisas escorrem
por óleo frio e espesso

Esta deveria ser a hora
em que me recolheria
como um poente
no bater do teu peito
mas a solidão
entra pelos meus vidros
e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges
com teus passos de menina
os teus sonhos arrumados
como duas tranças nas tuas costas
guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos
onde a vida te encarou

Mas os ruídos da noite
trazem a sua esponja silenciosa
e sem luz e sem tinta
o meu sonho resigna

Longe
os homens afundam-se
com o caju que fermenta
e a onda da madrugada
demora-se de encontro
às rochas do tempo 

Loneliness

I approach the night

Silence opens its dark cloths

And things run

By cold thick oil


This should be the time

Where would I gather

Like a sunset

Do not hit your chest

But loneliness

Enter through my glasses

And in their mourning hands

I loose my delirium


That's when you surges

With your girl steps

Your dreams are tidy

Like two braids on your back

Guiding me through endless corridors

And returning to the mirrors

Where life stared at you


But the noises of the night

Bring your silent sponge

And without light and without ink

My dream resigns.


Far

The men sink

With fermented cashew

It's the morning light

Take time to meet

To the rocks of time

Comentários