Politica Internacional 2 (2010)


1. Na sua opinião, a posição expressa pelo presidente dos Estados Unidos da América revela a intenção de manter a hegemonia destes na cena internacional? Justifique.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América entenderam que para assegurar a paz e o desenvolvimento mundial, deveriam abandonar o seu tradicional isolacionismo e procuraram impor a sua influência e vontade aos outros Estados. Em simultâneo foram confrontados com o objectivo da União Soviética de expandir a sua influência e os seus ideais para além das suas fronteiras como forma de criar um eixo de apoio externo.
Perante o poderio nuclear de ambas as partes, o mundo viu-se dividido em dois grandes blocos, apoiando cada um deles uma das grandes potências saídas do supra referido conflito militar, obrigando nas décadas seguintes a um delicado equilíbrio na balança de poderes num mundo claramente bipolarizado, que nem o Movimento dos Alinhados constituido maioritariamente por países do Terceiro Mundo, ou o neutralismo, conseguiram quebrar.
Com a dissolução do bloco soviético no final da década de 1980, o poder politico norte-americano viu-se confrontado com a realidade de ser a única verdadeira potência global, autêntica polícia do mundo.
Contudo a marcha da história rapidamente revelou novos desafios: a ameaça do terrorismo global que mostrou a capacidade de atacar em qualquer local do mundo; dos conflitos de cariz religioso e / étnico que fizeram ressuscitar velhos conflitos como sucedeu no caso dos balcãs e no centro de África; o risco de grupos terroristas, ou de Estados que os apoiam, acederem a armas nucleares; as mudanças climáticas e os desequilíbrios económicos e de distribuição de riqueza que colocaram em evidência a dicotomia existentes entre Norte e Sul e que por força das crises financeiras globais (caso do brutal aumento do preço do petróleo em 2008 ou das crises especulativas e de divida pública) vieram pôr em causa a estabilidade dos próprios Estados desenvolvidos.
Envolvidos em dois conflitos (Iraque e Afeganistão) e mergulhado numa crise económica, os Estados Unidos pretendem por um lado contar com o empenhamento dos outros Estados democráticos, mas em simultâneo não abdicam de impor a sua influência e vontade a esses mesmos Estados. Com o ressurgimento da União Soviética e a crescente força e influência de Estados com a China ou a Índia, os Estados Unidos, continuando a ser a principal potência económica e militar, já não são hoje a única potência capaz de impor a sua vontade.
Nesse sentido o discurso de Barack Obama vinca a vontade do seu país em assegurar a paz (ao pretender acabar com as armas nucleares), mas enquanto tal não for possível dita as regras que entende deverem ser cumpridas, estabelecendo à priori que manterá um arsenal nuclear para se defender a si e aos seus aliados, reforçando contudo a importância das instituições internacionais no cenário internacional.
Assim as palavras de Barack Obama são uma demonstração de que os Estados Unidos não abdicam de influenciar a balança de poderes, mas já não pretendem impor a hegemonia americana sobre a sociedade internacional e sobre os seus protagonista, não deixando de responsabilizar cada um pelo seu papel no mundo.
2. A política do bipolarismo e da co-responsabilidade é afectada pela pretensão de ter a Rússia como parceiro? Justifique.
Face aos novos desafios com que o mundo se defronta no inicio do século XXI, a nível ambiental, politico, económico e de segurança, com a cada vez maior globalização dos problemas e ameaças, os Estados livres e democráticos vêem-se confrontados com a necessidade de encontrarem respostas igualmente globais aos problemas com que se defrontam.
Ainda que se mantenha algum grau de desconfiança mútua, o facto é que com a dissolução do bloco soviético, o bipolarismo não pode mais ser visto com uma oposição entre Moscovo e Washington e os respectivos aliados de ambas as partes.
A Rússia, igualmente ameaçada pelo terrorismo, pelos problemas ambientais ou pelos conflitos étnicos e religiosos, é indiscutivelmente um elo importante e determinante para a capacidade de responder aos desafios actuais, necessitando o mundo que tenha um poder estável que assegure a protecção do seu armamento nuclear em face do risco de possíveis desvios por grupos terroristas.
A ameaça de escassez de bens alimentares e de matérias primas, o aumento do consumo energético e a redução das fontes tradicionais de energia, a poluição, a destruição do meio-ambiente, as crises económicas e o crescimento demográfico, constituem ameaças para todos os Estados.
Assim, do ponto de vista dos Estados Unidos e dos seus aliados, faz todo o sentido que a Rússia funcione como um parceiro, corresponsabilizando-se pela resposta às ameaças comuns e pela procura de soluções para a resolução dos problemas mundiais.
Ao encarar-se a Rússia como um parceiro, reforça-se a politica de corresponsabilização global e, em face da multiplicidade de protagonistas, ameaças e problemas globais, reduz-se claramente a bipolarização típica da Guerra Fria.
Exemplo importante é o terrorismo global capaz de atacar em Nova York, Moscovo, Londres, Madrid ou qualquer outro ponto do mundo. Isoladamente ou separados em blocos, os Estados acabariam por mais cedo ou mais tarde cair todos na esfera de influência dos terroristas. É necessária uma cooperação global para antecipar os movimentos dos terroristas, reduzir a sua capacidade de acção e, eventualmente, conseguir encontrar uma solução para as suas causas.
Depois de um posicionamento unipolar durante a administração Bush, os Estados Unidos, incapazes de sozinhos responderem a todos os desafios que a sociedade moderna lhes coloca, compreenderam a necessidade e importância vital de reconhecerem como parceiros não só os Estados Europeus tradicionalmente seus aliados, mas também a Rússia e potências emergentes tais como a China, a Índia ou o Brasil, corresponsabilizando-se todos pelo combate ao terrorismo e pela busca de uma resposta eficaz a todos os problemas deste inicio de século e milénio.

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