1.
Na sua opinião, a
posição expressa pelo presidente dos Estados Unidos da América
revela a intenção de manter a hegemonia destes na cena
internacional? Justifique.
Após
o final da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América
entenderam que para assegurar a paz e o desenvolvimento mundial,
deveriam abandonar o seu tradicional isolacionismo e procuraram impor
a sua influência e vontade aos outros Estados. Em simultâneo foram
confrontados com o objectivo da União Soviética de expandir a sua
influência e os seus ideais para além das suas fronteiras como
forma de criar um eixo de apoio externo.
Perante
o poderio nuclear de ambas as partes, o mundo viu-se dividido em dois
grandes blocos, apoiando cada um deles uma das grandes potências
saídas do supra referido conflito militar, obrigando nas décadas
seguintes a um delicado equilíbrio na balança de poderes num mundo
claramente bipolarizado, que nem o Movimento dos Alinhados
constituido maioritariamente por países do Terceiro Mundo, ou o
neutralismo, conseguiram quebrar.
Com
a dissolução do bloco soviético no final da década de 1980, o
poder politico norte-americano viu-se confrontado com a realidade de
ser a única verdadeira potência global, autêntica polícia do
mundo.
Contudo
a marcha da história rapidamente revelou novos desafios: a ameaça
do terrorismo global que mostrou a capacidade de atacar em qualquer
local do mundo; dos conflitos de cariz religioso e / étnico que
fizeram ressuscitar velhos conflitos como sucedeu no caso dos balcãs
e no centro de África; o risco de grupos terroristas, ou de Estados
que os apoiam, acederem a armas nucleares; as mudanças climáticas e
os desequilíbrios económicos e de distribuição de riqueza que
colocaram em evidência a dicotomia existentes entre Norte e Sul e
que por força das crises financeiras globais (caso do brutal aumento
do preço do petróleo em 2008 ou das crises especulativas e de
divida pública) vieram pôr em causa a estabilidade dos próprios
Estados desenvolvidos.
Envolvidos
em dois conflitos (Iraque e Afeganistão) e mergulhado numa crise
económica, os Estados Unidos pretendem por um lado contar com o
empenhamento dos outros Estados democráticos, mas em simultâneo não
abdicam de impor a sua influência e vontade a esses mesmos Estados.
Com o ressurgimento da União Soviética e a crescente força e
influência de Estados com a China ou a Índia, os Estados Unidos,
continuando a ser a principal potência económica e militar, já não
são hoje a única potência capaz de impor a sua vontade.
Nesse
sentido o discurso de Barack Obama vinca a vontade do seu país em
assegurar a paz (ao pretender acabar com as armas nucleares), mas
enquanto tal não for possível dita as regras que entende deverem
ser cumpridas, estabelecendo à priori que manterá um arsenal
nuclear para se defender a si e aos seus aliados, reforçando contudo
a importância das instituições internacionais no cenário
internacional.
Assim
as palavras de Barack Obama são uma demonstração de que os Estados
Unidos não abdicam de influenciar a balança de poderes, mas já não
pretendem impor a hegemonia americana sobre a sociedade internacional
e sobre os seus protagonista, não deixando de responsabilizar cada
um pelo seu papel no mundo.
2.
A política do
bipolarismo e da co-responsabilidade é afectada pela pretensão de
ter a Rússia como parceiro? Justifique.
Face
aos novos desafios com que o mundo se defronta no inicio do século
XXI, a nível ambiental, politico, económico e de segurança, com a
cada vez maior globalização dos problemas e ameaças, os Estados
livres e democráticos vêem-se confrontados com a necessidade de
encontrarem respostas igualmente globais aos problemas com que se
defrontam.
Ainda
que se mantenha algum grau de desconfiança mútua, o facto é que
com a dissolução do bloco soviético, o bipolarismo não pode mais
ser visto com uma oposição entre Moscovo e Washington e os
respectivos aliados de ambas as partes.
A
Rússia, igualmente ameaçada pelo terrorismo, pelos problemas
ambientais ou pelos conflitos étnicos e religiosos, é
indiscutivelmente um elo importante e determinante para a capacidade
de responder aos desafios actuais, necessitando o mundo que tenha um
poder estável que assegure a protecção do seu armamento nuclear em
face do risco de possíveis desvios por grupos terroristas.
A
ameaça de escassez de bens alimentares e de matérias primas, o
aumento do consumo energético e a redução das fontes tradicionais
de energia, a poluição, a destruição do meio-ambiente, as crises
económicas e o crescimento demográfico, constituem ameaças para
todos os Estados.
Assim,
do ponto de vista dos Estados Unidos e dos seus aliados, faz todo o
sentido que a Rússia funcione como um parceiro,
corresponsabilizando-se pela resposta às ameaças comuns e pela
procura de soluções para a resolução dos problemas mundiais.
Ao
encarar-se a Rússia como um parceiro, reforça-se a politica de
corresponsabilização global e, em face da multiplicidade de
protagonistas, ameaças e problemas globais, reduz-se claramente a
bipolarização típica da Guerra Fria.
Exemplo
importante é o terrorismo global capaz de atacar em Nova York,
Moscovo, Londres, Madrid ou qualquer outro ponto do mundo.
Isoladamente ou separados em blocos, os Estados acabariam por mais
cedo ou mais tarde cair todos na esfera de influência dos
terroristas. É necessária uma cooperação global para antecipar os
movimentos dos terroristas, reduzir a sua capacidade de acção e,
eventualmente, conseguir encontrar uma solução para as suas causas.
Depois
de um posicionamento unipolar durante a administração Bush, os
Estados Unidos, incapazes de sozinhos responderem a todos os desafios
que a sociedade moderna lhes coloca, compreenderam a necessidade e
importância vital de reconhecerem como parceiros não só os Estados
Europeus tradicionalmente seus aliados, mas também a Rússia e
potências emergentes tais como a China, a Índia ou o Brasil,
corresponsabilizando-se todos pelo combate ao terrorismo e pela busca
de uma resposta eficaz a todos os problemas deste inicio de século e
milénio.
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