Cinco e
meia da tarde, a hora a que deixo de existir…
Compro
qualquer coisa para dizer que como – queijo, fiambre, salsichas, leite com
chocolate, sumos…
Sigo
para casa onde apenas o pequeno Tex sabe que eu existo (pequeno é um eufemismo
para um gato cego com 6,2 kg…) mas por vezes já nem para ele tenho paciência…
Horas sem fim, salto
de livro em livro, tentando prender a minha mente, que autónoma e teimosa,
escapa sempre para o reino da dor e das sombras…
Lá para
as duas da manhã apago a luz (o Tex farta-se de resmungar que não o deixo
dormir)… viro, reviro e volto a virar na cama… raramente concilio o sono e
quando o faço entro no reino dos pesadelos (a tendência que tens para te meteres
em apuros nos meus sonhos e eu que nunca te consigo salvar…)
Às seis
e pouco da manhã os agricultores começam a tirar os tractores e a arrancar para
as fazendas… levanto-me esgotado e cheio de dores… deambulo pela casa tentando
inventar algo que fazer …
Oito e
quarenta, saio para o trabalho… trabalho? Mas que trabalho? Fazem muita questão
de me deixarem sem nada para fazer e raramente alguém me fala…nas oito horas em que existo estou quase só a olhar para as paredes...
Termino
o dia a lutar contra as lágrimas… ingloriamente a maioria das vezes…
Quando
me calha algum serviço Vicentino sinto-me tão sozinho a fazer as coisas… nas últimas
duas semanas estive 9 dias de serviço, 8 deles sozinho… ninguém me ajuda, ninguém
me apoia… não tenho ninguém com quem partilhar ou conversar…sinto-me só...
Os
fins-de-semana? Como achas que são os fins-de-semana de alguém que não tem família nem
amigos? Há momentos em que o desespero é tão grande que só sinto vontade de
desistir de tudo… mas tudo o quê se já nada tenho?
Sessenta
e três horas e meia seguidas em que não existo… ninguém no mundo se lembra de
mim…sabes o que me dói? sabes quantas vezes penso em ti? a falta que sinto das nossas conversas?
Não
tenho nada a que me agarrar, nada porque lutar, nada por que valha a pena viver…
e, sabes, não preciso de medicamentos ou orações… só preciso de um sonho…
Nos
(muitos) momentos maus da minha vida sempre acreditei que um dia me aconteceria algo de
bom… e era aí que residia a minha força, a minha capacidade de continuar… mas
agora já não acredito… já não consigo acreditar em nada…Deus não podia ser tão cruel comigo...
Nunca
quis ser rico, poderoso, famoso… tudo o que eu sempre quis foi ter uma família
para fugir da solidão e, todavia, por mais que faça, estou cada vez mais só,
esquecido por todos, fechado num labirinto no interior da minha mente…
Descobri que a esperança não é a última a morrer… quando a esperança morre depois ainda resta
o desespero, tão doloroso, tão incolor…
Até tu
te esqueceste de mim… deixaste de me falar, deixaste de saber quem sou… sabes a
dor que sinto por não quereres ser minha amiga? eu nunca te faria mal - és a pessoa mais especial que algum dia se cruzou comigo e serás sempre o meu sonho...
Dia a
dia o meu desespero aumenta… não encontro saída… não encontro nada…só paredes vazias e becos sem saída e sempre, sempre, a solidão...
Só me
resta procurar coragem para desistir…
Comentários
Enviar um comentário